O sexo faz bebés. Daí que seja
irónico que a criança, personificação do amor do casal, ameace tantas vezes o
romance que lhe deu existência. O sexo, que pôs toda essa operação em
andamento, é muitas vezes abandonado assim que os filhos entram em cena. Muitos
casais apontam a chegada do primeiro filho como o início do declínio da sua
vida erótica. Por que motivo desfere a paternidade um golpe tão fatal?

Mais cedo ou mais tarde a
maioria de nós consegue voltar a reconhecer-se no seio deste novo contexto
familiar. É nessa altura que o romance torna a fazer parte do tecido das nossas
vidas. Lembramo-nos que o sexo é bom; que nos faz sentir bem e nos aproxima.
Enquanto alguns casais voltam
a gravitar para junto um do outro, outros vagueiam por um caminho de mútuo
afastamento. Recuperar a intimidade erótica nem sempre é fácil. A questão é que
os pais de hoje, independentemente da classe a que pertencem, andam
sobrecarregados de trabalho e sentem-se esmagados sob esse peso. Como
consequência, deixam o sexo para segundo plano nas suas agendas, reservando-o
para quando tiverem terminado de atender a solicitações mais prementes.
Os casais corajosos e
determinados que mantêm uma relação erótica são, acima de tudo, aqueles que a
valorizam. Quando sentem que o desejo está em crise, tornam-se zelosos e fazem
tentativas francas e diligentes no sentido de o ressuscitar. Sabem que não são
as crianças quem apaga a chama do desejo; são os adultos que deixam de saber
mantê-la viva.
Adaptado de Perel (2008),
“Amor e desejo na relação conjugal”
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